Adoro o musical que a noite produz. A cidade vira um espetáculo e só tem
a mim de publico, na primeira poltrona, aplaudindo de pé essa magia.
Paulynne Alves
Av. Cristiano Machado
(...) ela debruçada à janela para acompanhar
quem passava, via-lhe o vestido subitamente repuxado, mostrando-lhe até à
metade das coxas alvas. Quando ela se lhe sentava aos pés, junto da
poltrona, e pelo corte do decote lhe surpreendia os seios palpitando sob
a blusa frouxa. Quando, apenas de calcinhas e "soutien" sobre os tacões
altos, via-a lavando no banheiro as pequeninas peças da sua roupa íntima.
Quando ela saía do banho embrulhada no roupão, os pés metidos nas
chinelinhas de couro vermelho, o cabelo arrepanhado no alto, gotejando
água e exalando perfume. Quando chegava da rua com a bolsa de compras,
ofegante do esforço e se lhe lançava nos braços, suada como estava, o
colo úmido, com seu aroma doce e picante. Quando ela depilava as
sobrancelhas e dava gritinhos diante do espelho. Quando passava o
mindinho pelos lábios para uniformizar o batom. Quando estalava o
elástico das ligas nas coxas, para estirar as meias de seda. Quando,
toda curvada sobre si mesma, deitava esmalte vermelho-negro nas unhas
dos dedos dos pés, e aquele cheiro enjoativo de banana descascada ficava
adejando em torno dela, em ondas quentes, excitantes.
Quando...
Sempre, sempre.
E que seus versos sonolentos não mais escondam a veracidade de suas notas;
Que sua beleza continue a me envolver, pois eu sei, que em você será para sempre.
Paulynne Alves
...
As árvores chacoalhava essa noite e a porta aberta fazia gelar os corpos.
Onde o suor, já não aquecia.
Sua face corada ao olhar seu reflexo.
Sua face corada perdida ao me olhar.
A chama que iluminou os ânimos, agora clareia seus anseios.
Foi deslumbrante o que eu senti.
Mas não me chame, não sou sonho.
Paulynne Alves
completude
E eu que pensei que
tivesse chegado ao meu limite descobri que não existe limite pro amor,
não pro nosso, não pra gente.
O calor que tem me
consumido nos últimos tempos é o calor do sol da manhã, é o brilho mais intenso
da lua e o cheiro imperceptivel de vida.
É você.
Minha saudade benigna.
Minha vontade de planejar uma
viagem pro espaço com passagem só de ida.
De ser alguém melhor.
Alguém com pelo menos metade
da indulgência do seu coração.
De acordar e dormir junto
todos os dias, pelo tempo que nos resta.
Tempo remanescente.
Que
não devemos perder e que perdemos, é verdade, mas que ganhamos em dobro pela
vontade de querer.
De querer o beijo mais
demorado, o abraço mais apertado e um até logo menos prolongado.
Buscar algo que talvez nem
exista, mas continuar tentando.
Edificar.
Traçar.
Constituir.
Hoje escrevo, sobre mim.
Não é o romance italiano que
eu fantasiei, mas é o meu romance.
E tem lá seu erotismo.
É nossa essa história.
E que enfim, aconteceu.
E tem sido como se manter em
pé na lua.
Tem sido como amar amar você.
Paulynne Alves
(...)
Paulynne Alves
O segundo ato - Paulynne Alves
A agulha da vitrola passando
no disco arranhado
Talvez você não tenha ido embora,
Lembranças de uma tarde de Outubro - Paulynne Alves
(...) um quarto em um canto qualquer da Catânia.
Aqueles feito pelo próprio cabelo, que deixam à mostra, a nuca.
Queria ficar na solidão, na quietude, em um remanso, apenas olhando...
Depois de um tempo, após terminar a leitura, ela voltava pra cama.
Sem falar nada, apenas sentindo.
E assim o ritual das tardes de Outubro continuavam.
Para sempre.
O nós, o nós sempre esteve vivo aqui.