O terceiro ato - Paulynne Alves

Depois de seis longos meses voltei a Catânia.
Desde o começo sabia que partiria, não é?
Eu sei, eu também sabia.

Você me conhece, pequena.
Sempre soube que eu procuraria em todo e qualquer canto algum pedaço de você.
E vamos combinar, nada mais clichê que um frasco de perfume.
Afinal, é o que eu sempre quis.
Você em um frasco.
Algo que eu pudesse guardar e sentir quando eu quisesse.

Não sossegaria até encontrar.
E acredite, eu encontrei.
Aqui mesmo, em uma loja de coisa barata.
Escondido no meio de outros muitos perfumes.

Nesses seis meses virei especialista em cheiros.

Você sempre foi mais esperta que eu.
O perfume não tem nome, marca ou qualquer outra coisa que alguém poderia identificar.
Como você.

Um frasco azul, pequeno, delicado, só não tem seus longos cabelos loiros.
Que seja, tem o seu sexo, todo, contido e guardado pra mim.

Consigo escutar Battisti tocando ao fundo.
E por instantes revivo todos os momentos concupiscentes que vivemos naquele quarto.
Feito dois animais no mais alto nível de selvageria.

Eu vendi o sobrado e levei comigo nada que fosse tangível.
Hoje volto com grande parte de você.

Falta pouco, muito pouco.
Eu não sossegarei.

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