"Sete da manhã de um domingo gélido.
A meu lado, o calor.
Calor de um corpo que me proporcionava um frio interior.
Frio que arrepiava todos os meus pequenos pêlos loiros numa explosão
de hormônios e sentidos.
Sua respiração movia o lençol de forma lenta e ritmada, marcando o contorno de seus seios.
Eu tentava acompanhar, mas outra parte de mim pulsava tão rápido
que eu me perdia na minha inquietação.
Tão rápido que poderia te acordar.
OLHOS!
Seus olhos que quando abertos transpareciam su'alma de pecadora e errante,
agora estavam fechados, calmos e serenos.
Gosto disso.
Faz com que eu me sinta no lugar certo.
Seus lábios, finos e delicados, quase que esculpidos, como os da Vênus de Milo e
suas feições suaves, estavam abertos, soltando suspiros de tranqüilidade.
Lábios que quando tocavam os meus cessava minha dor e, muitas
vezes, atravessava-as.
Não quero te acordar."
Foi o que restou de você.
Um pedaço de papel com cheiro de casa velha.
Palavras e sentimentos que eu pensei que você não pudesse sentir.
Afinal, a pecadora errante era você, dormindo ou não.
Paulynne Alves