A agulha da vitrola passando
no disco arranhado
Que já não toca mais música,
me acorda.
As tardes de Outubro se foram,
e com elas você.
O sobrado já não possui mais
os gerânios na janela.
A platéia já não aplaude mais
nossos corpos nus.
A fumaça de cigarro barato que
me inebriava, me incomoda.
Seus livros italianos que me
excitavam, estão espalhados por toda casa.
Você está espalhada pela casa!
Seu cheiro no lençol branco
desarrumado.
Sua imagem na janela,
E nosso amor.
Sim, ele permanece por toda a
casa e em todo meu ser.
Às vezes te vejo dançando
pelos cômodos, cantando Lucio Battisti.
Gritando pra que eu levante da
cama e veja como o dia está lindo.
Você não sabe, mas é você, e
não o dia.
Falácia!
Tudo não passa de vários goles
de whisky,
E de lembranças.
Não canso, pequena.
Eu, que nem fé tinha, tenho
rezado todas as noites pra que você volte.
Quem sabe no próximo Outubro.
Eu espero...
Mas tenho fome.
Fome de você!
Ando por esquinas
tentando te encontrar.
Tentando encontrar aonde você
se perdeu.
Aonde eu te perdi.
Encontrei várias de você,
admito.
Putas, sujas, casadas, apaixonadas, lindas, feias, gordas, magras.
Lábios e peles, sexo e gosto.
Todas loiras.
Amei cada uma delas.
Amei até evidenciar que apesar
de parecer,
Faltava-lhes a pinta pequenina
no meio das costas,
E a vontade inelutável de
viver cada instante como se fosse à última vez.
Como se fosse à última vez...
Não quero uma última vez!
Talvez seja apenas um vagão
desgovernado que se desvinculou do resto do trem.
Talvez esse vagão, seja a
cabine principal.
Talvez você não tenha ido embora,
Talvez você não tenha ido embora,
E isso ainda seja efeito do whisky.
Talvez...